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quinta-feira, 29 de março de 2012

MILLÔR FERNANDES

O MUNDO ficou mais pobre, Millôr Fernandes decidiu ir ter com Chico Anysio, dois gênios das artes, das letras com humor, do pensamento, da irreverência inteligente, do bom gosto.



AQUI VOS DEIXO O POEMA DE QUE MAIS GOSTO, DESTE GÉNIO CRIADOR

Poesia Matemática

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.

Millôr Fernandes

Texto extraído do livro "Tempo e Contratempo", Edições O Cruzeiro - Rio de Janeiro, 1954, pág.



12 comentários:

  1. Os poetas, e os pensadores, só morrem se lhe matarmos a memória. Fará parte dos nossos mortos.

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  2. Querido que bela escolha! Amei! Humor poesia e genialidade.Bela homenagem a Millôr.Os gênios não morrem, ficam na memória.
    Bjs Eloah

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  3. Linda homenagem e foi uma grande perda!! Adorei tua interação e já anexei ao texto por lá! abraço,obrigado!chica

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  4. Boa tarde, Arfer. Eu não conhecia esse poema, mas é de fato muito bom, adorei.
    Simples e complexo, falando da temática do cotidiano em sua essência, o que acontece geralmente.
    Foi uma grata surpresa vir aqui. Pincelei o seu blog e gostei muito. Vou conferir se te sigo, se não te sigo, passarei a seguir.
    O céu está em festa, pelo menos eles descansaram.
    Fique na paz!

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  5. Es un poema bellísimo que me ha encantado conocer.
    Gracias por rescatarlo y compartido.
    Siento no escribir en el hermosísimo idioma de Pessoa pero en los próximos meses estudiaré portugués y trataremos de solucionarlo.
    Saludos

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  6. adorei esta homenagem ao genio Millor fernandes
    hoje vim conhecer seu blog agradecer sua gentil visita e dizer seja sempre muito bem vindo ao meu simples recanto adoro pablo neruda
    mais adoro muito mais um fado e qual a surpresa aqui encontrei belos fados e me deliciei ouvindo vim desejar que tenhas um ótimo final de semana com carinho marlene

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  7. Arfer Boa noite, cheguei no seu espaço, e aqui fiquei e vou permanecer. São assuntos diversos, muito interessantes e que só tem a nos acrescentar, na nossa busca constante de conhecimentos. Parabéns pelo seu espaço, ficarei muito feliz se for conhecer o meu humilde blog.
    Linda a sua homenagem ao grande mestre de nossa literatura, o patrono dos cartunistas, uma grande perda no meio cultural, sentiremos saudades deste gênio, mas suas incomparáveis
    obras permanecerão por todas as gerações.
    Abraços
    Clarice Moreno

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  8. Bela e merecida homenagem. Gostei de vir aqui.
    Abraços.

    PAZ e LUZ

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  9. Este poema do Milor é mesma uma obra prima!

    Parabéns pela escolha!

    Compartilho com você a tristeza da perda de mais um gênio da nossa literatura!

    Abraços

    Leila

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  10. Millôr, genial... Na memória para sempre! Obrigada ARFER, por suas generosas palavras deixadas no meu blog. Você é o sol que veio para iluminar o meu humilde espaço com sua filosofia naturalista-realista. Como Baltazar e Blimunda que tem como alcunha os sete e a relação sol-lua. Somos unos na luta por uma vida sustentável, pelo SER e o SABER e por justiça social.
    Você é um ser admirável! Um grande abraço.

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  11. Não conhecia este poema e fiquei....deliciada! É de génio e é maravilhoso!
    Obrigada por o colocares aqui à disposição de nosso olhar!
    Um beijo e votos de uma santa Páscoa, muito doce.
    Graça

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  12. Bela lembrança, havia me esquecido dessa encantadora leitura! Abraço

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