MARCHAS DITAS POPULARES DE LISBOA … A BANDA PASSA …QUEM LEMBRA A DESGRAÇA?
O espetáculo JUNINO, mas não genuíno, repete-se cada vez
mais sofisticado. Oitenta e três anos depois, marchantes, padrinhos, arcos e balões
desfilarão (em liberdade) na avenida da LIBERDADE. O grande desfile, a 12 de junho, terá a seguinte ordem de
partida: 1. Mercados,2.Campolide, 3.Mouraria, 3.Santa Engrácia, 5. Marvila,
6. Alfama, 7. Graça, 8. São Domingos de Benfica, 9. Carnide, 10. Madragoa, 11. Benfica,
12. Bica, 13.Alcântara, 14. Bairro Alto, 15. Baixa, 16. São Vicente, 17. Olivais,
18. Lumiar, 19. Alto do Pina, 20. Beato e 21. a da Ajuda.
Nos dias 5, 6 e 7, apresentar-se-ão no “MEO-ARENA”
o mais recente palco da moda, dizem que foi um bom negócio.
Destes bairros (o bairro da baixa não conheço)
apresentados a concurso, um deles será o grande vencedor. Estes vinte e um
bairros marcharão, a concurso, ( recriando as tradições imaginadas) na
Av. da LIBERDADE, no dia 12 de junho, com paragem e exibição frente ao Parque
Mayer / Música, dança, arcos e balões / Um espetáculo, bem encenado, a não
perder.
E porque, gente coisa é outra fina, o prémio de 2014 coube á marcha de ALFAMA. Este ano qual será o bairro felizardo? Mas para que não falhe a memória cá vai um pouco de história.
E porque, gente coisa é outra fina, o prémio de 2014 coube á marcha de ALFAMA. Este ano qual será o bairro felizardo? Mas para que não falhe a memória cá vai um pouco de história.
MARCHAS POPULARES OU INVENÇÃO DO FOLCLORE CITADINO
As Festas Populares eram manifestações culturais que espelhavam a identidade de quem as produzia.
Os Arraiais eram comuns nas aldeias, vilas ou bairros da cidade e estavam associados ao SOLSTÍCIO de Verão, de origem Pagã. Era tradição queimar as coisas velhas, e daí a origem das fogueiras juninas.
Nos casos específicos dos bairros da cidade de LISBOA, as festividades populares não fogem à regra e têm, nas mais variadas representações, a sua identidade, no FADO, nas CEGADAS (representações teatrais de rua), nas rodas e cantares à volta da fogueira, 0nde, também, a simbologia do bairro estava presente.
A partir de fins do Sec. XVIII surge o culto do Santo António, que o Clero e o governo da cidade elegeram como patrono popular, passando S. Vicente a mero símbolo da cidade.
Apesar do contacto e interligação com outras culturas e outros hábitos, as “marcas” bairristas vão sendo representadas nas festas tradicionais da cidade onde o culto de Santo António prevaleceu. As marchas “ditas” populares que sucederam às marchas “Aux Flambeaux”, popularmente chamadas de “Fulambó” que percorriam as ruas do bairro e dos bairros adjacentes, em grandes filas, acompanhadas das bandas filarmónicas do bairro ou das designadas “troupes”( estas sim, as marcadamente de raiz popular).
Assim, as marchas populares, deixaram de o ser, ainda que aparentemente o sejam. A partir do Mês de Junho de 1932 passaram a ser um produto de folclore urbano, com obediência a regras e princípios, devidamente regulamentados e com a encenação adequada aos propósitos regimentais, como que um complemento da “CASA PORTUGUESA” de Raul Lino, é mais uma peça do puzle inserida no projecto de folclorização do Estado Novo Português.
É na sequência das comemorações do 28 de Maio, em 1932, que o “Notícias Ilustrado” no seu número especial sobre a efeméride, anuncia o 1º concurso das marchas. Um espetáculo capaz de mobilizar a atenção dos Lisboetas. No dia 12 de Junho de 1932 a sala do “Capitólio” enchia. Um êxito popular, segundo a imprensa da época.
O diretor do “Noticias Ilustrado” era, nem mais nem menos, José Leitão de Barros, também realizador de cinema, promotor cultural e muito ligado a ANTÓNIO FERRO o responsável pela política de PROPAGANDA do Regime, criador do Secretariado da Propaganda Nacional. A “ideia-proposta” de Leitão de Barros vai no sentido de satisfazer a vontade de Campos Figueira, diretor do Parque Mayer, no sentido de criar em Junho desse ano (1932) um espetáculo capaz de mobilizar a atenção dos lisboetas, pensado, dito e feito, caiu como sopa no mel. Foram convidadas a participar as coletividades de cada bairro, sendo que a produção estaria a cargo do Parque Mayer .
A propaganda de promoção foi intensa e a mobilização popular aconteceu.
Este projecto, apresentado como que fazendo parte da tradição, era o ideal, numa altura em que bem mais importante que veicular ideias, importava, isso sim, distrair o POVO, em cumprimento da Cartilha Cultural de ANTÓNIO FERRO.
Pouco importará se as marchas que se apresentaram no palco do “Capitólio”, em 12 de Junho, foram as do Alto do Pina, de Campo de Ourique, Bairro Alto ou Alfama, o que conta foi o sucesso popular que teve e principalmente porque foi um veículo de apoio à propaganda do regime Salazarista.
O concurso das marchas populares regressou, em força, no ano de 1934, concorreram então 12 Bairros. O Município de Lisboa chamou a si a organização e integrou-as no que designou por Festas da Cidade.
Se em 1934 as marchas celebraram o 10 de Junho (como Dia da Raça); em 1940 assinalaram os Descobrimentos Portugueses; de 1941 a 1946 não desfilaram, foi o tempo da 2ª Guerra Mundial; em 1947 comemorou-se a conquista de Lisboa aos Mouros por D. Afonso Henriques e em 1973 o tema foi o Grande Desfile Popular do Mundo Lusíada.
A cidade acabou por se apropriar das marchas como símbolo de uma identidade perdida, entre o rural (Ex. m. de Benfica) mas quanto à celebração das festas e dos santos populares constitui uma novidade, acabando até por potenciar a tradição dos arraiais e dos bailes populares.
As CEGADAS, essas, foram politicamente extintas e a representação transferida para os palcos, onde o controle da censura era mais eficaz.
Desta forma, tento fazer lembrar que as “Marchas (ditas) Populares” foram uma encenação criada com objetivos concretos, tal como muito do folclore rural que foi criado (a partir dos anos 30) e que hoje representam um espetáculo que, conjuntamente com outros, fazem parte do programa das festas da cidade. Não são uma tradição cultural, mas um espetáculo em que através de simbologia própria manifesta o propósito de nos mostrar algo que tem ou teve a ver com o Bairro que representam.
ARFER
ESTE ANO A GRANDE VENCEDORA, FOI? ...... TAM-TAM -
A MARCHA DO ALTO DO PINA (PELA 1ª VEZ) APÓS OITO DÉCADAS ...BEM HAJA!
Alfama (a grande vencedora do ano passado) ficou em 2º lugar e Alcântara em 3º.
EM JUNHO DE 2016, QUEM SERÁ O BAIRRO VENCEDOR?
UMA IMAGEM DA MARCHA DO ALTO DO PINA. ESPETÁCULO OU TRADIÇÃO?
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