“A
CIDADE E A IDENTIDADE – BARREIRO”
A
cidade não é apenas uma estrutura física, ela é um produto da evolução
histórica um signo de vivências, um conjunto estruturado de bairros e ruas com
vida própria, produto de um conjunto de vivências de cidadãos que ao longo do
tempo a criaram e a transformaram é por isso um museu vivo, retrato da Memória Colectiva que transmite um
sentimento de pertença cultural, onde cada rua e cada bairro tem a sua
história.
.O Barreiro,
ponto de partida, ponto de encontro, ponto de passagem e ponto de acolhimento
de tanta gente que, de toda a parte, o Comboio fez chegar. O Barreiro contém a
força de uma identidade construída e um pródigo Património Imaterial, fruto da
hiperactividade laboral e social, e das memórias contidas desta área urbana,
espaço de intensa actividade cultural, cívica e associativa.
O
Barreiro, durante décadas, foi uma cidade controlada, vigiada e sujeita a
acções repressivas pelo poder instituído. O espaço urbano em si não gera
contradições sociais, ou seja, elas existem reflexo dos interesses individuais
ou colectivos. Mas foi no seio das cidades que se processaram as grandes
transformações sociais do século XX.
A história
recente, do Barreiro, é plena de episódios e factos de cabal importância, quer
para a história local, quer para a história de Portugal. Sendo a cidade que me
acolheu, pela vivência e convivência continuada, posso afirmar que o Barreiro é exemplo de grandes transformações
sociais, no associativismo, na cultura e no desenvolvimento.
A cidade
foi criando a sua identidade, fundamentada na interculturalidade, de diferentes
histórias de vida de gentes vindas de muitos sítios, num quotidiano, ainda que
marcado pelas diferenças, mas com um objectivo comum, marcado pela vontade de
construir uma terra de todos e para todos.
Esta
postura, esta marca de identidade que ainda hoje prevalece, surgiu em grande
parte com a implantação do Caminho de Ferro que redesenhou a antiga vila
ribeirinha com os traços característicos dos operários e respectivas famílias,
oriundos, sobretudo, do Sul do país. Foram ficando e deixando os exemplos do
seu trabalho e da sua cultura, hoje tão vincadamente marcantes na sua postura
social. Assim o Barreiro cresceu por dentro e para fora.
Com
o Caminho de Ferro, reassumiu o seu papel na História de Portugal,
anteriormente (sec. XV) referenciado põe Álvaro Velho do Barreiro, cronista da
viagem que levou Vasco da Gama à Índia
O Comboio
está na génese da transformação de uma pequena Vila (Carta de Foral de
16/01/1512 – D. Manuel I) de pescadores e salineiros, numa cidade ligada à
revolução industrial que se processou em finais do século XIX. A chegada do Caminho
de Ferro, em 1861, veio potenciar o seu crescimento urbano e demográfico.
Em
1875 instalaram-se as primeiras fábricas, ligadas à indústria de transformação
de cortiça, vinda do Alentejo e com a cortiça vieram os homens e mulheres, na
busca de uma vida melhor.
Mais
tarde, em 1908, a
Companhia União Fabril começa a instalar o seu núcleo central de fábricas e, à
volta destas, vão-se construindo novos bairros, necessários ao alojamento dos
imigrantes vindos de todo o país, sendo na sua maioria do Alentejo e Algarve,
que ali procuravam o seu sustento.
De
tal modo se desenvolveu o Barreiro que, em 28 de Junho de 1984, foi elevado à
categoria de Cidade, exactamente num período em que, demograficamente,
apresentava sintomas de estagnação, em grande parte devido ao encerramento da
maioria das unidades produtivas. Em consequência disso , adveio o desemprego, a
procura de trabalho noutros lugares e assim, em termos quantitativos,
aumentaram as migrações pendulares e muitos residentes emigraram para outras
paragens. Hoje, a cidade que foi signo de progresso material, pelas suas
características de cidade industrial, inserida principal área metropolitana do
país, o seu património material e museológico é rico quanto a arqueologia
industrial e fundamentalmente uma Memória Colectiva muito rica.
O
quadro seguinte conta de certo modo a história evolutiva da cidade:
População
do concelho do Barreiro (1801 – 2004)
|
||||||||
2
425
|
3
384
|
7
738
|
21
030
|
35
088
|
88
052
|
85
768
|
79
012
|
78
992
|
Fonte: Arquivo Municipal do Barreiro
Actualmente as freguesias do concelho
do Barreiro são as seguintes: Alto, Barreiro (freguesia) , Coina , Lavradio
, Palhais , Santo André, Santo António da
Charneca , Verderena
No dia 16 de Janeiro de 1521, D. Manuel I
concedeu à Vila Nova do Barreiro a Carta de Foral do Barreiro. Eis alguns
excertos desta carta que fez do Barreiro vila, separando-a do alfoz de Alhos
Vedros:
O
Barreiro mantém a sua identidade, a raiz cultural do rural que se tornou
operário e a do cidadão da metrópole construída por si e à sua imagem. Porém a
riqueza cultural contida no capital humano, os seus hábitos colectivos e as
suas raízes sócio- culturais, são garantes de um futuro digno. Metaforicamente
a cidade é uma sucessão de tempos desiguais, que nos permite, através do olhar,
perceber as diferentes etapas do crescimento urbano e a sua relativização
quanto aos diferentes períodos de desenvolvimento socioeconómico, bem como
entender a sua marca identitária.
Cada
espaço urbano apresenta as suas especificidades, particularidades e
singularidades, o Barreiro cresceu a partir das imediações dos núcleos de
produção e comunicação. Nasceram bairros operários, a cidade é ao mesmo tempo
um produto homogéneo e heterogéneo como as pessoas que a “construíram” e
fizeram dela o seu lugar e que reflecte o contexto próprio de uma sociedade em
constante crescimento demográfico, imagem da urbe produto do desenvolvimento
industrial.
O
Barreiro não dispõe de património arquitectónico relevante. Merecem destaque as
igrejas da Misericórdia (séc. XVI), Matriz de Santa Cruz (séc. XVI) e Nossa
Senhora do Rosário, com duas torres sineiras e órgão. Restos dos moinhos de
maré (não recuperados) e os moinhos de vento da Alburrica.
Pontos
de referência: 1861
– Ano da passagem da vila rural e piscatória, para a Vila industrial e operária. O Barreiro
passa a ser o eixo central das comunicações ferroviárias entre o Norte e o Sul
e núcleo central de transportes ao Sul do Tejo;
1875
– Origem da instalação das fábricas de cortiça;
1908
– O complexo fabril da C.U.F.
Expansão
Urbana e desenvolvimento Social e Cultural – O desenvolvimento da Vila passa
pela criação de múltiplas Associações culturais, recreativas, desportivas, de
Classe e humanitárias;
O
Barreiro foi terra de luta pelo trabalho e pela liberdade, hoje, ainda que vá
perdendo as suas características operárias, vale pelo seu apego ao
associativismo, á cultura e ao ensino.
O
Barreiro e o Comboio
Ainda
que, oficialmente, a inauguração da linha do Sul tenha acontecido no ano de
Dois anos depois é definitivamente inaugurada à
exploração e ao uso público.
Construída pela Companhia
Nacional de Caminhos de Ferro ao Sul do Tejo (mais conhecida por Companhia dos
Brasileiros, já que alguns dos seus principais accionistas eram antigos
emigrantes do Brasil), cuja posição foi tomada pelo Estado.Os primeiros bairros
operários do Barreiro, começaram a ser construídos a partir da instalação dos
Caminhos de Ferro, exactamente junto a
primitiva Estação ferroviária, onde hoje está instaladas as oficinas da EMEF.
O bairro situado em volta do “ Palácio de Coimbra”, residência do
administrador da Companhia.
Nos anos subsequentes
surgem as primeiras pequenas fábricas de transformação da cortiça, que darão
lugar às corticeiras de maior dimensão, o evoluir de processo de
industrialização vai acelerar
alteração de hábitos e formas de vida tradicional, dando lugar ao
aparecimento dos primeiros bairros operários,
As necessidades
permanentes de mão de obra, por parte das indústrias instaladas, provocam
grande afluxo de populações vindas de todo o pais e em sequencia disso, os
problemas relacionados com a carência de habitações geram problemas e
situações de agravamento da tensão social.
No inicio do séc. XX,
dá-se inicio à construção do novo edifício dos Paços do Concelho(1906), que
veio a impulsionar decisivamente a expansão urbana do Barreiro, tendo em
vista a sua matriz já identificável da futura cidade, produto do
desenvolvimento industrial que evoluía de forma galopante.
Por volta de 1910 pululam
bairros clandestinos, um pouco dispersos por todo o lado, nas redondezas das
fábricas. Estes “bairros” eram compostos por construções abarracadas,
sobrelotadas por famílias numerosas.
O Bairro das Palmeiras, de
que ainda resta algum casario, erguido entre fábricas e a linha do comboio,
cujo modelo passou para outros locais (Verderena, Alto Seixalinho).Em muitos
casos, eram os proprietários dos
terrenos que construíam pequenas casas em tijolo e madeira, para arrendar aos
operários que delas necessitavam.
No Bairro Teodósio”, junto
a Rua Braz [1],
são construídas moradias de fraca construção, pelas quais os inquilinos
pagavam de renda entre cinco a dez tostões mensais, no inicio dos anos vinte.
Eram pequenas casas alinhadas em fila que foram dando corpo ao que hoje a rua
Manuel Pacheco Nobre, que liga a artéria central da cidade, Rua Miguel Bombarda,
à rotunda do Lavradio.
Entre a estação do Barreiro
A, concluída em 1935 e a rua Braz, à volta da cordoaria do Nicola, nascem dois
novos bairros: O “Bairro Miranda” e a “ Vila Manso” [2]
O Bairro Miranda é um dos poucos conjuntos
habitacionais que ainda existe, sem grande alterações ao seu aspecto inicial.
O primeiro bairro mandado construir pela CUF,
projectado de raiz e de propriedade da empresa, tendo em vista a acomodação
das famílias operárias que nela laboravam. A sua construção teve início em
190 e era composto “de”…92 casas individuais
para os operários e quatro para os quadros superiores, de tamanho e qualidade
nitidamente superiores” [3]
. Deste bairro, situado entre a via férrea
e o Bairro das Palmeiras, já quase nada existe.
ARFER
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