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sexta-feira, 28 de junho de 2019

BARREIRO - DIA DA CIDADE




“A CIDADE E A IDENTIDADE – BARREIRO”

A cidade não é apenas uma estrutura física, ela é um produto da evolução histórica um signo de vivências, um conjunto estruturado de bairros e ruas com vida própria, produto de um conjunto de vivências de cidadãos que ao longo do tempo a criaram e a transformaram é por isso um museu vivo, retrato da Memória Colectiva que transmite um sentimento de pertença cultural, onde cada rua e cada bairro tem a sua história.

.O Barreiro, ponto de partida, ponto de encontro, ponto de passagem e ponto de acolhimento de tanta gente que, de toda a parte, o Comboio fez chegar. O Barreiro contém a força de uma identidade construída e um pródigo Património Imaterial, fruto da hiperactividade laboral e social, e das memórias contidas desta área urbana, espaço de intensa actividade cultural, cívica e associativa.

O Barreiro, durante décadas, foi uma cidade controlada, vigiada e sujeita a acções repressivas pelo poder instituído. O espaço urbano em si não gera contradições sociais, ou seja, elas existem reflexo dos interesses individuais ou colectivos. Mas foi no seio das cidades que se processaram as grandes transformações sociais do século XX.

A história recente, do Barreiro, é plena de episódios e factos de cabal importância, quer para a história local, quer para a história de Portugal. Sendo a cidade que me acolheu, pela vivência e convivência continuada, posso afirmar que o Barreiro é exemplo de grandes transformações sociais, no associativismo, na cultura e no desenvolvimento.

A cidade foi criando a sua identidade, fundamentada na interculturalidade, de diferentes histórias de vida de gentes vindas de muitos sítios, num quotidiano, ainda que marcado pelas diferenças, mas com um objectivo comum, marcado pela vontade de construir uma terra de todos e para todos.

Esta postura, esta marca de identidade que ainda hoje prevalece, surgiu em grande parte com a implantação do Caminho de Ferro que redesenhou a antiga vila ribeirinha com os traços característicos dos operários e respectivas famílias, oriundos, sobretudo, do Sul do país. Foram ficando e deixando os exemplos do seu trabalho e da sua cultura, hoje tão vincadamente marcantes na sua postura social. Assim o Barreiro cresceu por dentro e para fora.

Com o Caminho de Ferro, reassumiu o seu papel na História de Portugal, anteriormente (sec. XV) referenciado põe Álvaro Velho do Barreiro, cronista da viagem que levou Vasco da Gama à Índia

O Comboio está na génese da transformação de uma pequena Vila (Carta de Foral de 16/01/1512 – D. Manuel I) de pescadores e salineiros, numa cidade ligada à revolução industrial que se processou em finais do século XIX. A chegada do Caminho de Ferro, em 1861, veio potenciar o seu crescimento urbano e demográfico.

Em 1875 instalaram-se as primeiras fábricas, ligadas à indústria de transformação de cortiça, vinda do Alentejo e com a cortiça vieram os homens e mulheres, na busca de uma vida melhor.

Mais tarde, em 1908, a Companhia União Fabril começa a instalar o seu núcleo central de fábricas e, à volta destas, vão-se construindo novos bairros, necessários ao alojamento dos imigrantes vindos de todo o país, sendo na sua maioria do Alentejo e Algarve, que ali procuravam o seu sustento.

De tal modo se desenvolveu o Barreiro que, em 28 de Junho de 1984, foi elevado à categoria de Cidade, exactamente num período em que, demograficamente, apresentava sintomas de estagnação, em grande parte devido ao encerramento da maioria das unidades produtivas. Em consequência disso , adveio o desemprego, a procura de trabalho noutros lugares e assim, em termos quantitativos, aumentaram as migrações pendulares e muitos residentes emigraram para outras paragens. Hoje, a cidade que foi signo de progresso material, pelas suas características de cidade industrial, inserida principal área metropolitana do país, o seu património material e museológico é rico quanto a arqueologia industrial e fundamentalmente uma Memória Colectiva muito rica.

O quadro seguinte conta de certo modo a história evolutiva da cidade:

População do concelho do Barreiro (1801 – 2004)
2 425
3 384
7 738
21 030
35 088
88 052
85 768
79 012
78 992

Fonte: Arquivo Municipal do Barreiro

Actualmente as freguesias do concelho do Barreiro são as seguintes: Alto, Barreiro (freguesia) , Coina , Lavradio , Palhais , Santo André, Santo António da Charneca , Verderena

No dia 16 de Janeiro de 1521, D. Manuel I concedeu à Vila Nova do Barreiro a Carta de Foral do Barreiro. Eis alguns excertos desta carta que fez do Barreiro vila, separando-a do alfoz de Alhos Vedros:


O Barreiro mantém a sua identidade, a raiz cultural do rural que se tornou operário e a do cidadão da metrópole construída por si e à sua imagem. Porém a riqueza cultural contida no capital humano, os seus hábitos colectivos e as suas raízes sócio- culturais, são garantes de um futuro digno. Metaforicamente a cidade é uma sucessão de tempos desiguais, que nos permite, através do olhar, perceber as diferentes etapas do crescimento urbano e a sua relativização quanto aos diferentes períodos de desenvolvimento socioeconómico, bem como entender a sua marca identitária.

Cada espaço urbano apresenta as suas especificidades, particularidades e singularidades, o Barreiro cresceu a partir das imediações dos núcleos de produção e comunicação. Nasceram bairros operários, a cidade é ao mesmo tempo um produto homogéneo e heterogéneo como as pessoas que a “construíram” e fizeram dela o seu lugar e que reflecte o contexto próprio de uma sociedade em constante crescimento demográfico, imagem da urbe produto do desenvolvimento industrial.

O Barreiro não dispõe de património arquitectónico relevante. Merecem destaque as igrejas da Misericórdia (séc. XVI), Matriz de Santa Cruz (séc. XVI) e Nossa Senhora do Rosário, com duas torres sineiras e órgão. Restos dos moinhos de maré (não recuperados) e os moinhos de vento da Alburrica.

Pontos de referência: 1861 – Ano da passagem da vila rural e piscatória, para  a Vila industrial e operária. O Barreiro passa a ser o eixo central das comunicações ferroviárias entre o Norte e o Sul e núcleo central de transportes ao Sul do Tejo;

1875 – Origem da instalação das fábricas de cortiça;

1908 – O complexo fabril da C.U.F.

Expansão Urbana e desenvolvimento Social e Cultural – O desenvolvimento da Vila passa pela criação de múltiplas Associações culturais, recreativas, desportivas, de Classe e humanitárias;

O Barreiro foi terra de luta pelo trabalho e pela liberdade, hoje, ainda que vá perdendo as suas características operárias, vale pelo seu apego ao associativismo, á cultura e ao ensino.

 O Barreiro e o Comboio
Ainda que, oficialmente, a inauguração da linha do Sul tenha acontecido no ano de 1861, a relação do Barreiro com o Comboio e a certeza de que essa importante via de comunicação viria a ser o ponto de partida para a grande transformação da pequena Vila na Cidade industrial que, durante um século, foi um dos polos produtivos mais importantes do país, aconteceu de facto em 1859, no dia dois de Fevereiro, quando Sua Majestade o Rei D. Pedro V, acompanhado de sua família e altas figuras da Nação foram recebidos festivamente no Barreiro. O objecto dessa visita foi a semente que deu origem à cidade industrial, que viria a ser. Foi a primeira viagem de comboio, oficialmente designada e noticiada, com partida do Barreiro e chegada a Vendas Novas.

 Dois anos depois é definitivamente inaugurada à exploração e ao uso público.
Construída pela Companhia Nacional de Caminhos de Ferro ao Sul do Tejo (mais conhecida por Companhia dos Brasileiros, já que alguns dos seus principais accionistas eram antigos emigrantes do Brasil), cuja posição foi tomada pelo Estado.




Os primeiros bairros operários do Barreiro, começaram a ser construídos a partir da instalação dos Caminhos  de Ferro, exactamente junto a primitiva Estação ferroviária, onde hoje está instaladas as oficinas da EMEF. O bairro situado em volta do “ Palácio de Coimbra”, residência do administrador da Companhia.
Nos anos subsequentes surgem as primeiras pequenas fábricas de transformação da cortiça, que darão lugar às corticeiras de maior dimensão, o evoluir de processo de industrialização vai acelerar  alteração de hábitos e formas de vida tradicional, dando lugar ao aparecimento dos primeiros bairros operários,
As necessidades permanentes de mão de obra, por parte das indústrias instaladas, provocam grande afluxo de populações vindas de todo o pais e em sequencia disso, os problemas relacionados com a carência de habitações geram problemas e situações de agravamento da tensão social.
No inicio do séc. XX, dá-se inicio à construção do novo edifício dos Paços do Concelho(1906), que veio a impulsionar decisivamente a expansão urbana do Barreiro, tendo em vista a sua matriz já identificável da futura cidade, produto do desenvolvimento industrial que evoluía de forma galopante.
Por volta de 1910 pululam bairros clandestinos, um pouco dispersos por todo o lado, nas redondezas das fábricas. Estes “bairros” eram compostos por construções abarracadas, sobrelotadas por famílias numerosas.
O Bairro das Palmeiras, de que ainda resta algum casario, erguido entre fábricas e a linha do comboio, cujo modelo passou para outros locais (Verderena, Alto Seixalinho).Em muitos casos, eram os proprietários  dos terrenos que construíam pequenas casas em tijolo e madeira, para arrendar aos operários que delas necessitavam.
No Bairro Teodósio”, junto a Rua Braz [1], são construídas moradias de fraca construção, pelas quais os inquilinos pagavam de renda entre cinco a dez tostões mensais, no inicio dos anos vinte. Eram pequenas casas alinhadas em fila que foram dando corpo ao que hoje a rua Manuel Pacheco Nobre, que liga a artéria central da cidade, Rua Miguel Bombarda, à rotunda do Lavradio.
Entre a estação do Barreiro A, concluída em 1935 e a rua Braz,  à volta da cordoaria do Nicola, nascem dois novos bairros: O “Bairro Miranda” e a “ Vila Manso” [2]
O Bairro Miranda é um dos poucos conjuntos habitacionais que ainda existe, sem grande alterações ao seu aspecto inicial.
O primeiro bairro mandado construir pela CUF, projectado de raiz e de propriedade da empresa, tendo em vista a acomodação das famílias operárias que nela laboravam. A sua construção teve início em 190 e era composto “de”…92 casas individuais para os operários e quatro para os quadros superiores, de tamanho e qualidade nitidamente superiores” [3] . Deste bairro, situado entre a via  férrea e o Bairro das Palmeiras, já quase nada existe.
ARFER






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