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quinta-feira, 20 de maio de 2010

A POESIA É ISTO

A POESIA É ISTO. É SÍNTESE, É RELATO, É OPINIÃO, É SENTIMENTO. MESMO QUE DISTANCIADA TEMPORALMENTE, É SEMPRE ACTUAL.


Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo grandes tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

LUÍS VAZ DE CAMÕES




Dificuldade de Governar
1.

Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é didícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chancheler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher podia ficar grávida.Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se-ia a nascer o sol
Sem autorização do Führer?
Não é provável e, se o fosse,
Nasceria por certo fora do lugar.

2.

É também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas enchiam-se de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do
industrial aos camponeses: quem,
Senão ele, lhes poderia falar da existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o lavrador?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.
3.



Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidde de patrões nem de proprietários.
É só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

4.

Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?

BERTOLD BRECHT



QUADRAS SOLTAS DE “ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO”

À guerra não ligues meia,
Porque alguns grandes da terra,
Vendo a guerra em terra alheia,
Não querem que acabe a guerra.

Depois de tanta desordem,
Depois de tam dura prova,
Deve vir a nova ordem,
Se vier a ordem nova

Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.

Vemos gente bem vestida,
No aspecto desassombrada;
São tudo ilusões da vida,
Tudo é miséria dourada.

Os novos que se envaidecem
P’lo muito que querem ser
São frutos bons que apodrecem
Mal começam a nascer.

ANTÓNIO ALEIXO


TEXTO E POEMA DE CARLOS DOMINGOS

Decorreu hoje o 56º aniversário do bárbaro assassinato de Catarina Eufémia.

Trabalhadora rural de Baleizão (Baixo Alentejo), participou activamente nas lutas por melhores jornas, contra o desemprego, pela paz e pela liberdade. Organizou as mulheres da sua terra, de forma que elas foram, a partir daí, quem mais activou essas lutas, suplantando os próprios homens.

No dia 19 de Maio de 1954, à frente dum grupo de mulheres que exigiam trabalho, enfrentando um pelotão da G.N.R. comandado pelo famigerado tenente Carrajola, Catarina Eufémia, com um filho ao colo e outro no ventre, gritou: «Nós só queremos pão, trabalho e paz!». O tenente Carrajola disparou então a sua pistola-metralhadora e, com vários tiros, assassinou a jovem Catarina, que logo ali caiu, esvaída em sangue.

Catarina Eufémia ficou como símbolo da mulher trabalhadora na luta contra o fascismo a troco da sua própria vida.

Vários poetas cantaram a heroína nos seus versos. Podemos citar os poemas de Papiniano Carlos, José Prudêncio, Ary dos Santos, o cantor José Afonso, Carlos Domingos e muitos, muitos outros.


CATARINA

Com três balas ceifaram o teu grito.
Com três balas roubaram o teu pão.
Com três balas lavraram o teu chão
que se enquistou em espasmos de granito.

Com três balas ficou o teu nome escrito
no coração da terra – coração
que rebentou em fúrias de vulcão,
memória aberta sobre o infinito.

Brotam canções da terra ensanguentada.
Catarina é bandeira, raiva hasteada
desta revolta vinda à superfície.

E os lobos tremem mal ecoam passos,
mal sopram vozes, mal se agitam braços
ou o vento se levanta na planície.

CARLOS DOMINGOS

6 comentários:

  1. Passei para dizer-te um olá e dizer que deu-nos uma mostra de que com poesia se pode ler todo o mundo...

    Gostei!

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  2. Um grão de poesia basta para perfumar todo um século .

    abraço.

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  3. Poesia não tem idade, assim como o amor sempre será amor e uma arma sempre causará dor, a poesia para sempre permanecerá, em livros, canções e principalmente em nossos corações.

    Uma ótima semana.

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  4. Falei que estaria sempre por aqui aprendendo... Lindos manifestos e protestos em versos!
    Como diz Joaquim Antonio de maneira poética e suave, encantamos e melhoramos o mundo com uma poesia.
    Parabéns e obrigada por seguir-me
    Abraços da Guerreira

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  5. Ai Catarina!!!
    Com três balas deixaste escrito teu grito, gemido, qual ponto de vista sentido.
    Sempre Catarina hão de haver pelo Infinito, amando em risos.
    Amei seu comentário querido.
    Um beijo verde amarelo do meu Brasil um pouco teu também. Guerreira.

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  6. Lendo seu livro onde habitam os melhores Escritores e poetas e Literários, ao som belíssimo de suas músicas sensíveis e tão belas.
    Sinto sua falta querido poeta.
    Beijos de luz.
    Gorettistsr

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