Translate

domingo, 6 de junho de 2010

MARCHAS DITAS POPULARES

FOLCLORE REINVENTADO, A SABER.


MARCHAS POPULARES OU INVENÇÃO DO FOLCLORE CITADINO

Todos os anos faço lembrar que:

As Festas Populares eram manifestações culturais que espelhavam a identidade de quem as produzia.

Os Arraiais eram comuns nas aldeias, vilas ou bairros da cidade, estavam associados ao SOLSTÍCIO de Verão, de origem Pagã. Era tradição queimar as coisas velhas, e daí a origem das fogueiras juninas.

Nos casos específicos dos bairros da cidade de LISBOA, as festividades populares não fogem à regra e têm, nas mais variadas representações, a sua identidade, no FADO, nas CEGADAS (representações teatrais de rua), nas rodas e cantares à volta da fogueira, 0nde, também, a simbologia do bairro estava presente.

A partir de fins do Sec. XVIII surge o culto do Santo António, que o Clero e o governo da cidade elegeram como patrono popular, passando S. Vicente a mero símbolo da cidade.

Apesar do contacto e interligação com outras culturas e outros hábitos, as “marcas” bairristas vão sendo representadas nas festas tradicionais da cidade onde o culto de Santo António prevaleceu. As marchas “ditas”populares que sucederam às marchas “Aux Flambeaux”, popularmente chamadas de “Fulambó”que percorriam as ruas do bairro e dos bairros adjacentes, em grandes filas, acompanhadas das bandas filarmónicas do bairro ou das designadas “troupes”( estas sim, as marcadamente de raiz popular).

Assim, as marchas populares, deixaram de o ser, ainda que aparentemente o sejam. A partir do Mês de Junho de 1932 passaram a ser um produto de folclore urbano, com obediência a regras e princípios, devidamente regulamentados e com a encenação adequada aos propósitos regimentais, como que um complemento da “CASA PORTUGUESA” de Raul Lino, é mais uma peça do puzle inserida no projecto de folclorização do Estado Novo Português.

É na sequência das comemorações do 28 de Maio, em 1932, que o “Notícias Ilustrado”no seu número especial sobre a efeméride, anuncia o 1º concurso das marchas. Um espectáculo capaz de mobilizar a atenção dos Lisboetas. No dia 12 de Junho de 1932 a sala do “Capitólio”enchia. Um êxito popular, segundo a imprensa da época.

O director do “Noticias Ilustrado”era, nem mais nem menos, José Leitão de Barros, também realizador de cinema, promotor cultural e muito ligado a ANTÓNIO FERRO o responsável pela política de PROPAGANDA do Regime, criador do Secretariado da Propaganda Nacional. A “ideia-proposta”de Leitão de Barros vai no sentido de satisfazer a vontade de Campos Figueira, director do Parque Mayer, no sentido de criar em Junho desse ano (1932) um espectáculo capaz de mobilizar a atenção dos lisboetas, pensado, dito e feito, caiu como sopa no mel. Foram convidadas a participar as colectividades de cada bairro, sendo que a produção estaria a cargo do Parque Mayer .

A propaganda de promoção foi intensa e a mobilização popular aconteceu.

Este projecto, apresentado como que fazendo parte da tradição, era o ideal, numa altura em que bem mais importante que veicular ideias, importava, isso sim, distrair o POVO, em cumprimento da Cartilha Cultural de ANTÓNIO FERRO.

Pouco importará se as marchas que se apresentaram no palco do “Capitólio”, em 12 de Junho, foram as do Alto do Pina, de Campo de Ourique, Bairro Alto ou Alfama, o que conta foi o sucesso popular que teve e principalmente porque foi um veículo de apoio à propaganda do regime Salazarista.

O concurso das marchas populares regressou, em força, no ano de 1934, concorreram então 12 Bairros. O Município de Lisboa chamou a si a organização e integrou-as no que designou por Festas da Cidade.

Se em 1934 as marchas celebraram o 10 de Junho (como Dia da Raça); em 1940 assinalaram os Descobrimentos Portugueses; de 1941 a 1946 não desfilaram, foi o tempo da 2ª Guerra Mundial; em 1947 comemorou-se a conquista de Lisboa aos Mouros por D. Afonso Henriques e em 1973 o tema foi o Grande Desfile Popular do Mundo Lusíada.

A cidade acabou por se apropriar das marchas como símbolo de uma identidade perdida, entre o rural (Ex. m. de Benfica) mas quanto à celebração das festas e dos santos populares constitui uma novidade, acabando até por potenciar a tradição dos arraiais e dos bailes populares

.As CEGADAS, essas, foram politicamente extintas e a representação transferida para os palcos, onde o controle da censura era mais eficaz.

Desta forma, tento fazer lembrar que as “Marchas (ditas) Populares”foram uma encenação criada com objectivos concretos, tal como muito do folclore rural que foi criado (a partir dos anos 30) e que hoje representam um espectáculo que, conjuntamente com outros, fazem parte do programa das festas da cidade. Não são uma tradição cultural, mas um espectáculo em que através de simbologia própria manifesta o propósito de nos mostrar algo que tem a ver com o Bairro que representam.

ARFER 2002

6 comentários:

  1. Poeta... ouço a bela música e me leva para um tempo que eu vivera ou quisera vivê-lo.
    Linda letra!!!!!!!!!!
    Essa foto das manifestações está representando bem seu País, bem como os Folclores em todo mundo.
    Amei visitar-te poeta querido.
    Um beijo suave aqui da Pátria irmâ. Brasil.
    Goreti Albuquerque.

    ResponderEliminar
  2. Poeta, amigo meu,
    És sempre bem-vindo ao meu blog...
    Tuas palavras são um incentivo, pelo qual agradeço de todo o coração.
    Foi muito bom ter passado por aqui e aprender mais um pouco. Aprender é a palavra justa, pois para mim foi uma aula! Adorei teu post!
    Que lindo termos herdado para a cultura brasileira esse aspecto da cultura portuguesa: agradecer, festejar, homenagear.
    Por aqui as festas juninas esquentam as noites, gloriosas, alegres.
    Viva!

    ResponderEliminar
  3. Ah meu amigo, quem escreve assim não é gago, não senhor.É importante haver quem tenha uma perspectiva histórica vivida na 1ª pessoa sobre o "folclore" nacional.
    Um abraço
    Dulce

    ResponderEliminar
  4. As tradicionais festas que nos mostram a cultura de cada gente.
    Muitas delas se vão junto com o tempo e novos costumes aparecem... Esta é a roda da vida...

    Gosto de saber da cultura dos outros amigo.
    Obrigada por partilhar

    ResponderEliminar
  5. Que bom conhecer as origens de "festas populares"...
    Gostei muito do texto.

    ResponderEliminar